15 de fevereiro de 2006

Há muito tempo penso em passar por aqui.
Semana passada alguns fatos importantes aconteceram: tomei banho de chuva ao caminhar, e depois tomei outro banho de chuva, no dia seguinte.
O que diferencia tanto um fato assim, tão banal para outras pessoa (como você, talvez) é que meu estado de espírito está novamente em sintonia.
Posso perceber isto só de estar aqui, neste momento, escrevendo para o blog (para "o blog", para "o leitor do blog", ou "para mim mesmo"?).

No primeiro dia a chuva caía enquanto eu voltava de uma caminhada, e estava na orla da Lagoa da Pampulha. Enquanto caía eu admirava o barulho da água (cuidado, isto pode te levar ao transe), e me senti como renovado.
"Seja como a água", foi o que eu li alguns dias atrás, em um livro que trata da vida de um samurai. É a perspectiva do zen-budismo sobre como a água contorna obstáculos mais fortes do que ela, ou destrói, com o tempo, o ferro que é um material muito resistente. A água sabe respeitar e se fazer respeitada, em sua simplicidade. Se enfrenta o fogo pode apagá-lo, e se este for muito intenso, ela se transforma em vapor para voltar novamente em outra oportunidade. Ela se adapta a qualquer local por onde passa, e sempre se dirige para o oceano. Mesmo podendo ser carregada nas mãos, e parecer frágil, em grande quantidade pode matar. É maleável, vai para onde guiamos, mas envolve por completo qualquer objeto nela mergulhado.
Enquanto a chuva caía pensei nisto. Agradeci. E me senti renovado. Aquele momento para mim foi de rebatismo.

No dia seguinte a situação foi um pouco diferente. Eu ainda caminhava, como faço praticamente todos os dias, mas desta vez ventava.
Não me lembro de haver lido nada sobre o vento, mas fiquei pensando nos sentimentos e sensações que em mim despertavam naquele instante.
O vento não pode ser visto, apenas percebido, sua potência está, portanto, em suas ações. Não podemos envolvê-lo ou embalá-lo, senão ele perde sua força, mas podemos tentar aproveitar sua força e produzir energia. Ele vem e vai, sem sabermos exatamente onde começa e onde termina, mas mostra a direção que devemos seguir (sempre à favor do vento, no caso dos navios à vela, e no caso da pipa - o papagaio -, sempre contra o vento) - sabedoria para distinguir uma situação de outra. Como brisa ele refresca nosso rosto, em dias quentes. Como tempestade ele provoca o terror, e causa a morte daqueles que o substimam. A diferença nas situações anteriores está exatamente na intensidade de um e de outro. Se eu não posso vê-lo, mas posso senti-lo, então sua maior virtude é a discrição, seguida de uma atitude ativa perante o mundo. Vento parado é ar, deixando de ser vento.

Hoje fiquei espantado com um pequeno recado que recebi. Simples, mas muito belo.
As coisas mais belas estão ocultas exatamente nos detalhes mais simples da vida.

Seja como a água, e como o vento.

Outro dia volto para conversar contigo/comigo novamente...

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