12 de julho de 2007

Indescritível quadro...

... lá estava você: de pé diante da porta, com seu camisão-pijama, com detalhes rosas. As mãos unidas à altura do peito, com os olhinhos miúdos por trás dos óculos, que questionavam o motivo de eu estar de pé na madrugada. Diante de mim uma pessoa-escultura delicada.

Não tive dúvida: fui para perto e envolvi esta escultura mágica em um abraço.

Passaram-se dias, meses, anos. Mudei de trabalho, pele e corpo. Continuamos juntos, porém esta imagem permanece nítida em minha mente (junto com um arrependimento de não ter te fotografado, pois palavras aqui não bastam). A estética da cena passaria despercebida para qualquer pessoa. Só um observador atento, que esquadrinhasse seu olhar sonolento por trás das lentes, talvez perceberia algo diferente na cena. Uma imagem que convida, evoca, atrai.
Vai além da libido, do desejo carnal, do toque. Um olhar que toca e puxa para si, por sua delicadeza e fragilidade.

Outro dia te vi novamente: um problema te fazia chorar. Quando saltei do carro para vir em seu auxílio, esta imagem me veio nítida na mente: você de pijama, acordando de madrugada.

Acredito que o tempo possa ser distorcido como o espaço: podemos dobrá-lo, flexioná-lo, esticá-lo. Enuanto eu caminhava, o tempo voltou, vivo, intenso. Enquanto conversava contigo, me deixei levar (sem querer, desculpe) para aquela noite em que estávamos juntos. A maciez de sua voz, pedindo ajuda. Sua pele tenra e quente, ao tocar meu rosto. Tudo voltou. Incrível como uma imagem refaz sensações tão antigas.

O problema se resolveu, e à medida em que o tempo passava, mudávamos. Mudávamos de aspecto e pensamentos. O Tempo trouxe um amadurecimento sadio, e descobrimos que, entre tantas matérias e obrigações, o que vale mesmo é viver cada minuto intensamente, pois eles são irrecuperáveis.

Desfrutamos conquistas grandiosas e obstáculos que pareciam intransponíveis. Sorrimos, choramos, brigamos e nos reconciliamos. Amamos e afastamos. Tudo conforme o sábio Salomão já havia descrito.


"Fragilidade", neste caso, não significa de forma alguma fraqueza. Talvez eu tenha errado a palavra, e em seu lugar deveria colocar "feminilidade", ou (se acharem que estou estereotipando) "delicadeza".
Sim! Será esta a palavra! Pois a delicadeza pode ser firme em certos momentos.
Ah! Que saudade daquela noite, onde você realizou para mim um belo e encantador quadro: uma moça de pijamas.

Um comentário:

Luciana disse...

A moça de pijama - vestida de moça, de mãe, de menina e de mulher - se sente mais moça, mais menina e mais mulher ao seu lado! A moça de pijama também lembra sempre do peito macio e protetor onde ela deita a cabeça em busca de carinho, paz, colo, atenção, dengo, amor... a moça de pijama ama os braços que vêm lhe abraçar com vontade e saudade toda vez que ela aparece.

A delicada moça e seu pijama branco só se tornam um quadro em seus olhos, e em seus braços esse quadro se torna realidade.

Amo você.