24 de maio de 2007

"Mão com esfera refletora", litografia, 1935, 31 x 21,5cm - Mauritis Cornelius Escher

Taí o problema. Ou melhor, um dos 25 problemas que tenho ultimamente.
Ler imagens é tão fácil quanto jogar War: no começo é divertido, seu raciocínio está controlado, sua pressão arterial moderada e os batimentos cardíacos também, mas após 4 ou 8 horas de jogo, você já quer resolver tudo com pedaços de pau e palavrões.
Depois de 4 dias e 4 noites pensando "o quê mais?", lendo teorias de imagem de Jacques Aumont, Didi-Huberman, Gilles Deleuze e até o Bhagavad Gita, realmente não há mais o que dizer.
Uma mão sustenta uma esfera espelhada. No reflexo abaulado (putz!), a imagem de um homem, e do ambiente que o cerca. Aparentemente está em um escritório, ou sala de estudos. Os livros, quadros e móveis me levam a crer nisto. A janela, fechada, permite a passagem de luz para o ambiente. Sete quadros estão pendurados nas paredes do ambiente: 5 parcialmente visíveis, e 2 quadros onde posso perceber apenas as molduras.
Imagem mimética, quase um retrato. Porém, uma inquietação. Lembrando das aulas da Vera Casa Nova, há, em toda imagem, um jogo de ocultação/aparecimento ("fort-da" de Freud), onde um sentido aparece, óbvio, claro, porém ao mesmo tempo se oculta, foge.
O óbvio já foi percebido, mas o que estará oculto?
O homem refletido é o próprio artista, Escher, portanto a mão que sustenta o glogo é sua própria mão. Porém, considerando o posicionamento da mão que passa "por baixo" do quadro representado, acho que minha própria mão poderia sustentar aquele globo. Daí as perguntas:
Seria eu mesmo criador da obra diante de mim? Pensando em Umberto Eco, e na Obra Aberta, sim, pois a obra pronta não pertence mais ao artista (ou escritor) e será recriada pelo espectador. Prolongando o conceito, e voltando com Freud, o homem refletido aparece como fantasma do próprio artista, e se sobrepõe à minha própria imagem, à minha própria pessoa.
No reflexo representado, vejo o artista e também me vejo, como em um espelho, pois (re)crio a obra diante de mim.
Conclusão: preciso parar de tomar tanto café forte...

Um comentário:

Carol Costa disse...

Muito bacana seu blog, senhor Bruxo! Só abriria mão do fundo preto, que deixa a página muito pesada para ler. Bons textos!